O que as agências podem aprender com a cultura das novas empresas de tecnologia
Trabalhando em comunicação corporativa sempre ouvi o conceito de “mudar de lado”. Tanto de quem sai da redação e vai para agência quanto de quem sai de agência e vira cliente.
No meu caso, “mudei de lado” ao deixar de ser apenas usuário da tecnologia para desenvolver produtos inovadores para comunicação e marketing na Cortex, onde atuo como Product Manager Sênior, liderando o time de produtos para a audiência de comunicação e marketing.
Neste texto vou compartilhar aprendizados referentes à cultura e processos das novas empresas de tecnologia – conhecidas como startups e scale-ups. Muitos destes teriam sido úteis na minha vivência anterior, quando era gestor de comunicação da agência FSB, líder de RP na América Latina.
Os primeiros 30 dias nessa nova experiência me ensinaram algumas coisas:
- Ter processos e frameworks estruturados, sem precisar iniciar todos os projetos do zero, aumenta a produtividade;
- Entender os impactos das ações de comunicação garante melhores planos de comunicação;
- Sua certeza de sucesso de uma estratégia é apenas uma hipótese até que você possa testá-la na prática;
- A tecnologia pode ser uma ótima aliada para escalar treinamentos internos e de porta-vozes.
A seguir, explico mais detalhes sobre esses aprendizados.
1) Não tenha medo de modelos prontos
O mundo da tecnologia me surpreendeu com a quantidade de modelos, frameworks e processos. Para quem passou a vida em agências, minha primeira reação foi achar que isso me tomaria tempo e deixaria a minha ação mais lenta, mais burocrática. O que aprendi foi o inverso.
Receber modelos e aprender a partir do que outras pessoas já fizeram antes de mim foi mais simples e surpreendentemente mais rápido do que eu esperava. Vi que, na verdade, documentar os processos e atividades contribui muito mais para o alinhamento dos times – e isso faz toda a diferença nas techs escaláveis.
Olhando pra trás, fiquei pensando na quantidade de horas perdidas em agências “colocando os times na mesma página” que os clientes. Além disso, no imenso número de planos de comunicação que sempre nascem do zero, quando temos uma boa quantidade de aprendizados e ações criativas distribuídos em planejamentos de vários clientes.
Logo, se as agências tivessem isso tudo organizado, economizariam muitas horas dos profissionais e aumentariam sua produtividade. É claro que um plano nunca é igual ao outro, mas começar sempre do zero também não é garantia de sucesso.
2) Seja cientista de suas ideias, não um narrador
Cheguei cheio de certezas sobre produto, clientes, processo de venda e acreditando que fui contratado por essas afirmações e segurança. Até que veio a frase matadora dos meus líderes: “essa é a sua hipótese”.
Os produtos incríveis e as estratégias dos melhores em tecnologia nascem dessa premissa. Mais de perguntar como um cientista do que de afirmar como um narrador. E para ser cientista e comprovar suas hipóteses você precisa se rechear de dados.
O mundo da comunicação corporativa está começando a mudar, mas ainda se segura muito mais em narrativas do que em dados. E na verdade uma coisa só existe (de forma consistente) com a outra.
Meça sempre o impacto
Do lado de cá, para lançar uma nova funcionalidade procuro medir seu potencial de impacto. Pode ser receita, diminuição de tempo, menos cliques para chegar no resultado ou melhor compreensão de um gráfico. Mas sempre tem um objetivo e um resultado mensurável esperado (em números).
Em RP deveríamos nos perguntar mais sobre como nossas ações geram impacto:
- Essa pauta contribui para qual pilar de negócio do meu cliente?
- Com que objetivo?
- Qual a medida de sucesso?
- Vendas, share of voice no tema, aumento da frequência da discussão com protagonismo de marca?
Me pergunto hoje quantas vezes vi ações acontecerem por gravidade (ou pressão externa) sem ter claramente um impacto e objetivo mensurável.
Em resumo, fica claro que o uso de dados na comunicação é essencial para realizar melhores ações. Sem isso, a tarefa de RP comprovar o seu valor fica ainda mais difícil, principalmente no jogo corporativo das organizações. Ser data driven não é mais uma escolha, mas uma obrigação.
3) Mais tecnologia não significa ser impessoal
Quando entrei na Cortex, as tradicionais etapas de integração e treinamento pelas quais os recém-contratados passam vieram consolidadas em um único arquivo. Por exemplo: recebi links e vídeos de treinamentos.
Isso fez com que as pessoas não ficassem comigo como sombra, mas dedicassem o tempo delas para tirar minhas dúvidas, perguntar se estava tudo certo e me ensinarem os caminhos e com quem falar.
Aquela pessoa de “integração” que fica o tempo todo repetindo slides de apresentação para novos funcionários não existe aqui.
Levando essa mesma lógica para o treinamento tradicional de porta-vozes isso não poderia ser mudado também? Será que ele precisa ser 100% presencial? Não daria para adiantar algo online e dedicar o tempo do cliente e da agência para a discussão de casos? Levantar cases e dados que enriquecem as discussões e dinâmicas?
Mais uma vez: com o olhar de dados e de produtividade certamente as agências podem obter resultados melhores. Usar o tempo de pessoas para se dedicar às pessoas e usar a tecnologia no que pode ser escalável me parece ser o melhor caminho sempre.
Concluindo
O tempo na Cortex ainda é curto, mas os aprendizados já foram muitos. Integrar dados e processos mais estruturados às rotinas das agências de comunicação traria ganhos para todos.
Nesses 30 dias de nova casa, reforcei meu entendimento de que o trabalho da Cortex e das agências são complementares. Acredito que essa troca de experiências seja riquíssima e muito valiosa para os profissionais de comunicação em geral.
Assim, “mudar de lado” não significa abandonar suas antigas crenças e aprendizados. Significa apenas ampliar seu horizonte e visões sobre como aperfeiçoar o trabalho comunicação.
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