Uma pesquisa recente realizada pela Aberje com a Cortex mapeou a orientação por dados nas áreas de Comunicação das empresas brasileiras. As estatísticas, obtidas de 108 companhias em 11 estados, demonstram de forma probabilística a iminência de um novo perfil do profissional de Comunicação.
Isso é indicado, por exemplo, com a descoberta de que 89% das organizações participantes mensuram a efetividade da estratégia de relacionamento com a imprensa com análise de dados. Além disso, em 74% delas, a compatibilidade das mensagens com os objetivos estratégicos do negócio é avaliada com alta intensidade.
Agora, que novo perfil é esse, exatamente? O que já é esperado dos comunicadores empresariais pelo mercado?
Eu tenho alguns insights que gostaria de compartilhar com você.
Há uma clara requisição para ampliação da capacidade de transitar em diferentes áreas, colaborando com Marketing, Design e Relações Públicas, mas também com boards executivos e de TI. Inclusive porque esses outros departamentos passam a demandar da Comunicação uma atuação mais consultiva.
Na esteira dessa realidade, é esperado que este profissional tenha flexibilidade para incorporar novos métodos e técnicas. Por exemplo, adaptando-se ao surgimento cada vez mais frequente de novas mídias.
Para além de ser heavy user, a habilidade para explorar propositivamente plataformas e serviços digitais também faz parte do novo perfil do profissional de Comunicação. Isso em termos de lidar com vastos volumes de dados para a obtenção de insights acionáveis, que amparam decisões inteligentes em tempo hábil.
O próprio estudo da Aberje demonstra que esse tema é bem latente no ecossistema nacional de negócios. Pense neste contraste:
Assim como foi-se o tempo em que a Inteligência Artificial era apenas um discurso, a inovação agora precisa ser materializada pelos comunicadores corporativos. Ela deve ser a espinha dorsal de todas as iniciativas, do planejamento à produção de conteúdo; da condução de projetos e campanhas às respostas a circunstâncias e tendências.
É até um pouco duro afirmar isso, mas profissionais dessa área que não se esforçarem para ter uma mentalidade altamente criativa podem perder lugar no mercado.
Seja porque suas skills são mecânicas demais, e podem ser substituídas por um bot, ou porque não cumprem as expectativas dos boards executivos — de diferenciação da concorrência, de correspondência das necessidades dos públicos, e assim por diante.
Você já imaginou a quebra de paradigmas que essa realidade representa?
Numa civilização em franca mudança, onde a verdade é fluida e a confiança efêmera, o profissional de Comunicação precisa defender continuamente a ética e lembrar constantemente a todos os stakeholders que a companhia deve manter diálogos responsáveis com todos os seus públicos.
Isso passa, por exemplo, por barrar tentativas de greenwashing, demonstrando claramente as consequências desse tipo de decisão para o legado reputacional da companhia.
Outra skill indispensável para o comunicador corporativo contemporâneo é a de gerir habilidosamente o tempo e atuar por projetos.
De um lado, ele precisa performar bem com cronogramas apertados — seguindo a dinamicidade da sociedade da informação. De outro, pensar e agir com alta capacidade de projeção; ou seja, equilibrar escopo, metas, objetivos e orçamentos, além de demonstrar resultados de maneira tangível, contextual e orientativa.
Basicamente, agora é necessário passear com fluidez por áreas como Finanças, Controladoria, RH; lidar razoavelmente bem com ciências exatas e sociais aplicadas — ou, no mínimo, saber a melhor forma de consultar e obter colaboração de especialistas desses campos de conhecimento.
Por fim, o profissional de Comunicação também precisa saber identificar oportunidades, assumir riscos calculados e criar soluções. Ou seja, ter uma forte veia empreendedora.
Perceba, tudo o que sinalizei até aqui converge para uma atitude menos de empregado, mais de parceiro estratégico. Inclusive tendo capacidade para falar de igual para igual com a alta hierarquia da companhia na hora de propor ideias, defender investimentos, entre outras iniciativas.
Em síntese, do comunicador empresarial se espera um senso de propriedade. E isso vai muito além de fazer entregas sob encomenda; demanda autonomia, sociabilidade… liderança!
O novo perfil esperado de um comunicador corporativo é multifacetado, conformado por habilidades multidisciplinares para colaborar eficazmente com diversas áreas. Nele, a digitalização é uma parte fundamental, especialmente diante da necessidade de lidar com grandes contingentes de dados.
Um mindset inovador, onde a criatividade deve guiar todos os esforços também entra na equação. Acrescido da defensoria da ética e da responsabilidade comunicacional, tão necessárias em um mundo de informações voláteis.
Além disso, a gestão eficaz de tempo e projetos juntamente com uma mentalidade empreendedora são indispensáveis. Sobretudo para quem quer atuar em empresas com alta maturidade comunicacional.
É isso: o novo perfil do profissional de Comunicação supera a ideia de ser um simples empregado; remete à parceira estratégica na qual se é capaz de influenciar as decisões de alto nível e contribuir verticalmente para a sustentabilidade dos negócios.
Otávio Ventura é Offer Lead na Cortex, empresa líder em Big Data e IA para Marketing e Vendas na América Latina. Com experiência no setor de Relações Públicas Comunicação, teve passagens pela FSB Comunicação, Philip Morris International e Grupo Schincariol. É formado em Publicidade pela PUC-Rio e tem MBA em Gestão Estratégica de Negócios pela Ibmec.